Pesquisadores do Centro de Tecnologia alertam sobre necessidade de intensificar isolamento social

Professor Jorge Soares (acervo pessoal)Nenhuma flexibilização das políticas de distanciamento é razoável antes de junho, considerando-se os dados atualmente disponíveis e mesmo as previsões mais otimistas. O alerta é feito pelos professores do Centro de Tecnologia da UFC Jorge Soares e Lucas Babadopulos, em comunicado intitulado “Quatro mensagens sobre a COVID-19 no Ceará”, divulgado no último dia 4 de maio. Para os pesquisadores, os modelos existentes também indicam que não deve haver retorno ao normal logo em seguida, mas sim um processo paulatino da retomada das atividades econômicas.

“Os modelos ajustados aos dados atuais, incluindo os que têm previsões mais otimistas (sugerindo saída do isolamento em junho), precisam que se mantenha ou que se reforce o atual cenário de distanciamento até a data prevista, quando deverá ser reavaliado se a previsão otimista se confirmou. Sem conhecimento confiável e, principalmente, sem esforço coletivo da sociedade, poderemos nos encontrar na triste posição de não termos salvado tantas vidas quanto poderíamos e colhermos uma economia ainda mais fragilizada no médio prazo”, alertam os cientistas. 

Soares é diretor de Inovação da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP) e tem acompanhado os trabalhos de diversos cientistas cearenses sobre o assunto. Soares e Babadopulos, colaboradores frequentes em modelagens de materiais e estruturas, se debruçaram desta vez sobre o espalhamento da COVID-19 no Ceará, em sintonia com o esforço de um grupo de pesquisadores cearenses focado em modelos epidemiológicos mais avançados.

Professor Lucas Babadopulos (Acervo pessoal)comunicado foi elaborado para explicar com clareza o cenário atual. As conclusões contrapõem algumas previsões que circulam em redes sociais e tentam justificar um afrouxamento das medidas de distanciamento social em pouco tempo.

“Nas semanas anteriores, estivemos parcialmente isolados (cerca de metade dos cidadãos). Se houver uma saída abrupta do isolamento, conforme sugerido por alguns, muda-se automaticamente a taxa de novas infecções”, alertam, lembrando que, no início da pandemia em Fortaleza, cada pessoa infectada contaminava entre 3 e 4 pessoas. Atualmente, essa taxa é de 1,2, o que indicaria que o Estado estaria em situação muito pior se não tivesse adotado as medidas restritivas das últimas semanas. 

Os pesquisadores são sempre cautelosos ao citar a necessidade do uso de dados mais recentes e ao considerar a subnotificação e os atrasos nas confirmações das mortes. Os dados estão-se alterando permanentemente, com impacto direto nas previsões das semanas seguintes. Por isso, advertem que, mantendo-se o cenário atual, o Ceará deve atingir neste mês os índices mais altos de contaminação.

De acordo com o comunicado, diferentemente do que se costuma dizer, não será um “pico”, mas um “platô” (um índice alto que deve permanecer ao longo de algum tempo para, só então, começar a ceder). “O nível que estamos experimentando de mortes, mesmo em cenário otimista, deve durar pelo menos 3 a 4 semanas”, dizem.

O documento faz ainda mais um alerta. Após o platô, não há dados que sugiram a possibilidade de saída do isolamento de forma segura. A tendência, de acordo com a literatura internacional e com o que vem sendo observado no Ceará, é que ocorra uma segunda onda de contaminação.

A intensidade dessa onda pode ser administrada dependendo das políticas de retomada adotadas, de modo que os impactos na sociedade sejam minimizados. Ou seja, será preciso dosar a liberação das atividades econômicas (com consequente infecção de algumas pessoas) à capacidade do sistema de saúde.

O comunicado de Soares e Babadopulos foi avaliado e encorajado por dois outros pesquisadores da UFC que se têm debruçado sobre o tema: o Prof. José Soares, do Departamento de Física da UFC, cientista-chefe de Dados do Ceará que tem desenvolvido alguns dos melhores modelos preditivos no Estado; e o Prof. José Xavier, da Faculdade de Medicina, que também é cientista-chefe da Saúde do Ceará. Os dois trabalham com nível maior de complexidade, o que é essencial para dar suporte à adequada tomada de decisão no Ceará, porém de difícil acesso ao público geral.

Fontes: Prof. Jorge Soares – e-mail: jsoares@det.ufc.br; Prof. Lucas Babadopulos – e-mail: babadopulos@ufc.br

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