Um novo lote de 130 máscaras de proteção facial produzidas pela Universidade Federal do Ceará, os “face shields”, começou a ser distribuído nesta sexta-feira (24) para unidades de saúde no Ceará. Esses equipamentos de proteção individual (EPIs) funcionam como escudos para o rosto, evitando o contato direto dos profissionais de saúde com aerossóis com gotículas com o vírus.
Com essas, já são 1.230 máscaras entregues a várias instituições de saúde no Estado. Entre elas, o Hospital Waldemar de Alcântara, que validou o modelo desenvolvido pela equipe da Oficina Digital; o Hospital Leonardo da Vinci, hospitais regionais da zona Norte e Sertão Central, o Hospital-Maternidade Mãe Totonha (Madalena), além de UPAs, UAPs e secretarias municipais de saúde.
Os equipamentos foram entregues pela Oficina Digital, um dos laboratórios da UFC diretamente envolvidos na produção dos EPIs, ao Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar (ISGH) e ao Hospital Geral Waldemar de Alcântara, que cuidam da logística de distribuição para as unidades de saúde.
“Esses face shields são importantes equipamentos de segurança, principalmente, para quem, como eu, está na linha de frente e lida diretamente com aerossóis. São importantes para a gente se proteger e também para atender sem tanto medo”, diz a fisioterapeuta Aryadne de Oliveira Marques, do serviço de atendimento domiciliar do Hospital Waldemar de Alcântara.
As unidades a serem beneficiadas têm de se cadastrar na página da Oficina Digital, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo e Design (DAUD), para receber as máscaras, que são produzidas a partir de impressoras 3-D, máquinas de corte a laser ou plotters de recorte.
CAMPANHA – Para confecção dos EPIs, os pesquisadores deram início a uma campanha para doação de folhas de acetato ou de dinheiro para aquisição desses insumos. As doações em dinheiro devem ser feitas por meio da Fundação ASTEF.
Segundo o Prof. Roberto Vieira, um dos coordenadores da Oficina Digital, a capacidade de produção vem crescendo bastante devido às melhorias no processo produtivo, mas o grupo possui pedidos de mais 4 mil máscaras para instituições de saúde. Por essa razão há a necessidade de manter a campanha de doação de materiais.
No total, cerca de 30 voluntários vêm trabalhando na Oficina Digital, alguns de fora da comunidade acadêmica, o que mostra a dimensão que a campanha conquistou. A equipe está dividida em tarefas, como as de produção, comunicação, compra de material e logística.
Parte dessas máscaras tem sido produzida na casa dos voluntários, mas há um grupo de três pessoas que tem trabalhado diariamente nas dependências da Universidade para uso das impressoras e plotters do Curso de Design. Esse pequeno grupo é limitado justamente para evitar aglomerações.
REDE DE SOLIDARIEDADE – A produção das máscaras de proteção facial pela UFC é resultado de uma grande rede de solidariedade entre várias unidades da Universidade. De início, diferentes grupos de professores começaram a se perguntar, ainda de forma isolada, como poderiam ajudar nessa pandemia. A partir da constatação de que vários laboratórios da Instituição possuíam impressoras 3-D, fundamentais para a produção dos equipamentos, começou a haver uma articulação interna para organizar a produção de EPIs.
O projeto de angariação de impressoras e insumos foi coordenado pelos professores Danielo Gomes, docente do Departamento de Engenharia de Teleinformática, e Ismayle Santos, pesquisador do GREat; e pela coordenadora de Inovação Tecnológica (UFC Inova), Ana Carolina Matos. A esse processo seguiram-se a criação de campanha para arrecadação de acetato e outros insumos utilizados nas máscaras e a convocação de voluntários para ajudar nas tarefas.
Dessa rede, além da Oficina Digital, têm participado grupos como o Laboratório de Computação Física (Curso de Sistemas e Mídias Digitais), coordenado pelo Prof. Clemilson Costa Santos, responsável pela produção de EPIs distribuídos no município de Madalena e em UAPs de Fortaleza. O grupo agora tem se dedicado a inovações na área de EPIs, produzindo máscaras de proteção facial a partir de canos de PVC.
Do Campus de Quixadá, o Prof. Wagner Al-Alam, coordenador do Curso de Engenharia de Computação e integrante do Laboratório de Fabricação Digital de EPIs e EPCs, desenvolveu um protótipo de máscara e validou-o com profissionais de saúde do Hospital Geral Dr. César Cals (HGCC). O grupo de Quixadá foi responsável pela segunda remessa das máscaras, encaminhando-as ao HGCC, ao Hospital e Maternidade José Martiniano de Alencar (antigo Hospital da Polícia Militar) e à Farmácia-Escola da UFC.
Em Sobral, os integrantes do Programa de Educação Tutorial (PET) do Curso de Engenharia de Computação, tutorados pelo Prof. Iális Cavalcante, em parceria com o IFCE, doaram 18 máscaras de proteção facial ao Hospital Dr. Estevão.
A UFC também participa da força-tarefa de instituições cearenses que está desenvolvendo o protótipo de um capacete de respiração assistida chamado Elmo, um mecanismo de respiração artificial não invasivo que evita que o paciente seja entubado. A força-tarefa é composta pela UFC, Escola de Saúde Pública, Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP), Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI Ceará) e Universidade de Fortaleza (UNIFOR). O protótipo está em fase final de ajustes e entrará em fase de teste clínico nesta semana.
Serviço: os interessados podem fazer doações para a produção de EPIs, se inscrever como voluntários na Oficina Digital e se cadastrar para receber as máscaras de proteção no site da Oficina Digital.
Fonte: Coordenadoria de Comunicação Social e Marketing Institucional – e-mail: ufcinforma@ufc.br
Criado pelo Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (INPI), o observatório tem o objetivo de divulgar tecnologias que podem ter utilidade no desenvolvimento de ações globais e locais de combate à doença, facilitando aos atores do sistema de inovação brasileiro o acesso a informações.
A diretora da Divisão de Suporte à Propriedade Intelectual da Coordenadoria de Inovação Tecnológica (UFC Inova), Lívia Maria Queiroz Lima, explica que o observatório serve para mapear as tecnologias relacionadas à COVID-19, além de ser uma ferramenta de consulta para que as pessoas tenham acesso a ações que podem gerar propriedade industrial. “Daí a importância de a Plataforma [Colaborativa da UFC] estar em um observatório de uma autarquia federal que está mapeando o que tem sido feito no País inteiro e ser considerada uma tecnologia nova, uma inovação”, comenta.
Lançada em março, a Plataforma Colaborativa da UFC já reúne cerca de 130 ações desenvolvidas pela comunidade universitária no contexto da pandemia do coronavírus, tais como pesquisas, produções de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), doações de produtos de limpeza e higiene, atendimentos médico e psicológico e elaboração de cartilhas e materiais educativos. As atividades são cadastradas por meio de formulário eletrônico para serem consultadas e divulgadas à sociedade.
Para Lívia, a plataforma inova no fato de mapear e reunir ações desenvolvidas pela UFC sobre o coronavírus. “A partir do momento em que a gente faz algo novo para a Universidade, novo para a região e para o País, isso é uma inovação”, observa, lembrando que a ideia é que a plataforma seja melhorada e valorizada para mapear outras pesquisas e tecnologias realizadas pela UFC. “A plataforma é um braço do que a gente quer desenvolver na UFC em inovação”, afirma.
CAPACETE – Algumas ações disponibilizadas na plataforma, inclusive, já estão no Observatório de Tecnologias Relacionadas à COVID-19 do INPI. É o caso do capacete de respiração assistida, desenvolvido em uma força-tarefa envolvendo a UFC, a Universidade de Fortaleza (UNIFOR), a Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), através do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI Ceará), e, ainda, com o apoio da Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP/CE) e da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP).
O equipamento, que prevê a utilização de um mecanismo de respiração artificial não invasivo, aparece no observatório na subárea Ventiladores/Respiradores Mecânicos, ao lado de notícias de pesquisas realizadas em outras universidades e centros de estudos, tais como Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal da Paraíba e Universidade de Oxford.
Seguirão suspensas, até o dia 15 de maio, as atividades presenciais administrativas e acadêmicas da Universidade Federal do Ceará, conforme determinado na Resolução Ad Referendum nº 10/CONSUNI, assinada nesta quinta-feira (30) pelo reitor, Prof. Cândido Albuquerque. A decisão é válida para todos os cursos de graduação e pós-graduação em todos os campi da Instituição.
A deliberação foi tomada, em face da urgência, considerando as recomendações do Comitê de Enfrentamento à COVID-19 na UFC. O novo documento prorroga a Resolução nº 8/CONSUNI, de 30 de março, que dispõe sobre ações a serem realizadas no âmbito da UFC, em virtude da pandemia decorrente do novo coronavírus (SARS-COV-2/COVID-19).
Reafirmando a resolução anterior, as atividades acadêmicas remotas, incluindo orientações, fóruns e aulas mediadas por tecnologia, poderão continuar sendo realizadas no período, quando possível. Em relação aos estágios supervisionados obrigatórios, as atividades presenciais seguem suspensas até o dia 15 de maio. Já as atividades de internato em saúde, inclusive presenciais, todavia, seguem sem suspensão.
Reiterando as decisões tomadas anteriormente pelo Conselho Universitário (CONSUNI), mantém-se a previsão de reavaliação do Calendário Universitário, para que não haja prejuízo à comunidade acadêmica.
O QUE FUNCIONA – Os alunos das Residências Universitárias continuarão recebendo suas refeições por serviço de entrega no novo período, conforme já vinha ocorrendo. O Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), a Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (MEAC) e a Farmácia-Escola seguem em funcionamento.
Para casos emergenciais, continuam funcionando os seguintes serviços de atendimento à saúde: Coordenadoria de Perícia e Assistência ao Servidor (CPASE), Clínica-Escola de Psicologia, atendimento psicológico e assistência social da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE). As demais atividades que deverão manter-se em funcionamento, ainda que em regime especial, estão listadas na Resolução nº 08/CONSUNI.
Saiba como algumas atividades funcionam no período de isolamento:
Em www.ufc.br/coronavirus há uma série de notícias sobre como as unidades administrativas e acadêmicas têm adaptado seus atendimentos durante a crise provocada pela pandemia da COVID-19, além de ações da Universidade Federal do Ceará para o enfrentamento ao coronavírus.
Fonte: Coordenadoria de Comunicação Social e Marketing Institucional da UFC – e-mail: ufcinforma@ufc.br
Em tempos de quarentena e isolamento social, a Coordenadoria de Comunicação Social e Marketing Institucional (CCSMI) lança o UFC Talks, série de entrevistas com professores e pesquisadores de diferentes áreas para nos ajudar a refletir sobre assuntos específicos inseridos em grandes temáticas. As entrevistas estão disponíveis no portal ufc.br com divulgação em todas as redes sociais da Universidade Federal do Ceará.
Para começar, na temporada de estreia vamos conversar sobre os desafios impostos pela pandemia do novo coronavírus. A primeira entrevistada é a psicóloga Kelen Gomes Ribeiro, doutora em Saúde Coletiva e professora da Faculdade de Medicina e do Programa de Pós-graduação em Saúde Pública da UFC.
Nessa conversa, ela fala sobre medo e ansiedade neste período de isolamento, dá dicas para manter a saúde mental e de como deve ser a relação com as crianças neste momento. “É importante que se desenvolva um movimento para desacelerar, numa perspectiva de busca do repouso e de confortos, evitando a instalação de mais mal-estar”, diz.
ufc{talks} – Por que é tão difícil atravessar este período de isolamento social?
Kellen Ribeiro – O distanciamento ou isolamento social promovido para diminuir a propagação do novo coronavírus é uma medida muito relevante, mas tende a ser difícil porque traz muitas implicações, inclusive psicológicas. Não será vivido da mesma forma por todos; pode ter contornos diferentes. Somos seres biopsicossociais; construímos nossa identidade na relação com a gente mesmo e com os outros. Viver junto com outras pessoas é algo importante para o ser humano.
Historicamente, isso fez com que aumentasse a sobrevivência da espécie. Em conjunto, ficou mais viável conseguir alimento e construir abrigo, por exemplo. Isso inclui os mecanismos psíquicos: com a intenção de sobrevivência, nós nos mantemos em contato. Com menos contato, tendemos a ficar em alerta. Ancestralmente, estar sozinho significa perigo.
Estamos diante de perigos reais, que desencadeiam medo e ansiedade. O medo é fomentado por aspectos bem palpáveis: medo do adoecimento, do meu próprio, do de pessoas queridas e de pessoas com quem eu possa ter tido contato; medo de apresentar sintomas graves e não contar com assistência em saúde; medo de chegarmos a uma situação em que não teremos como cuidar de filhos ou de outras pessoas que contariam com nossos cuidados; e medo da morte.
São muitas possibilidades de perdas, o que nos remete também ao apego, nossa capacidade de construir vínculos com os outros. A teoria do apego de Bowlby nos dá elementos para compreender a tendência das pessoas para estabelecer fortes laços afetivos. Dentro dessa teoria, os laços não se desenvolvem apenas para satisfazer a instintos biológicos, como o de alimentação e o sexual, mas também por necessidade de segurança e proteção. Temos a forte reação emocional que ocorre quando esses laços ficam ameaçados ou rompidos.
Estudos mostram que, além do medo da morte em si, associam-se a ele: 1) o medo da dor e do sofrimento; 2) o medo da dependência e; 3) o medo de estar sozinho na hora de morrer. Nossa tristeza profunda quando vemos os caminhões da Itália levando os corpos também se relaciona a isso; sabemos que essas pessoas muito provavelmente não estiveram com suas famílias nos momentos finais de suas vidas. Nesse contexto, dentro de casa, há grande possibilidade de as pessoas sentirem tristeza, raiva, saudade e mesmo falta de esperança.
Junto com isso entra a ansiedade, que tem relação direta com a vivência da falta de controle da situação. Uma característica do estado ansioso é a excitação, que promove uma aceleração do pensamento. A literatura aponta que ocorre uma elaboração, com a tentativa de planejar uma maneira para eliminar o perigo no menor espaço de tempo possível. Esse movimento mental, no contexto atual do coronavírus, é ineficiente. A sensação de perigo continua e a conclusão de que ainda não é possível eliminá-lo leva a um ciclo vicioso, porque essa sensação aumenta o estado ansioso.
Para que a gente saia desse ciclo, é importante que se desenvolva um movimento para desacelerar, numa perspectiva de busca do repouso e de confortos, evitando a instalação de mais mal-estar.
ufc{talks} – Diante disso, o que fazer para tentar manter a saúde mental e reduzir a ansiedade?
Kellen Ribeiro – Estamos diante de crises e precisamos tentar lidar da melhor forma possível com elas. A OMS [Organização Mundial da Saúde] apresentou um guia com dicas para enfrentar consequências psicológicas vividas neste período. Quero destacar algumas e reforçá-las.
Evite a busca excessiva de informações. Escolha um ou dois momentos do dia para se informar, em fontes fidedignas, como o próprio site da OMS ou de outras autoridades competentes. É importante diferenciar os boatos, as atuais “fake news”, dos fatos.
Crie oportunidades para tratar de histórias positivas de pessoas que tiveram a COVID-19, como as que já se recuperaram e estão bem.
Se está trabalhando, busque pausas. Essa crise nos impulsiona para sair do automatismo;
Se está em casa, tente criar uma rotina com tarefas regulares: limpar os cômodos, cozinhar, fazer atividade física, trabalhar, se for o caso. A rotina aumenta a previsibilidade e isso contribui para diminuir a ansiedade. Se estiver na companhia de outras pessoas, organizem-se para que ninguém fique sobrecarregado.
Crie possibilidades de atividades prazerosas, como escutar música ou assistir a filmes. Atividades manuais também tendem a ser benéficas. Se você se sente em condições de resolver pendências, resolva-as. Mas não faça disso uma obrigação.
Procure ser mais cuidadoso com sua alimentação. Pare de consumir aquilo que lhe causa dano: desde alimentos a notícias. A gente precisa ter condição de “digerir”, física e simbolicamente, aquilo que chega.
Fique em contato com a família e os amigos, fortaleça os vínculos afetivos com o uso dos recursos que temos. Ter uma rede de apoio é considerado um dos determinantes sociais da saúde e, para a atualidade, essa rede precisa passar a funcionar de maneira diferenciada.
Dedique-se ao auxílio de outras pessoas, vizinhos, idosos, pessoas em situação de vulnerabilidade social. Alguns precisarão de recursos materiais e outros ficarão bem satisfeitos apenas com ligações frequentes. Centre sua atenção também em pessoas que moram sozinhas. Além do benefício objetivo de quem recebe ajuda, temos que a sensação produzida no corpo após um ato generoso contribui para nossa saúde física e mental.
Tente sustentar a perspectiva do sono regular, procurando manter inclusive o horário habitual. Temos noção do quanto isso é desafiador neste momento em que estamos muito inquietos. Uma dica importante é deixar fluir os pensamentos, sem se fixar neles, como nos exercícios de meditação – para quem ainda não teve a oportunidade de meditar, temos aplicativos e muitos vídeos na Internet com meditação guiada, por exemplo. Especialmente próximo ao horário de dormir, evite concentrar o pensamento em assuntos que estão fora do seu controle, como a crise sanitária em si, a atitude de outras pessoas, os cenários políticos ou as repercussões de tudo na economia mundial.
Procure profissionais de saúde se avaliar que sua situação ou a de outras pessoas precisam de suporte qualificado em saúde mental. O Conselho Federal de Psicologia, inclusive, flexibilizou normas para serviço psicológico remoto neste momento.
Estamos diante de incertezas; não precisamos estipular o período de duração da pandemia e, somente a partir disso, reorganizar nossas vidas. “Viver um dia de cada vez”, com adaptações, com ajustamentos criativos. É um momento muito oportuno para focarmos nos sentidos de nossas vidas, nas nossas riquezas interiores, na nossa capacidade de acessar aquilo que é sagrado para nós.
Trazemos dicas que podem contribuir com a vida das pessoas, mas, em alguns momentos, muito provavelmente não conseguiremos segui-las. E é importante que aceitemos isso também. Não precisamos nos cobrar “alta produtividade” agora.
Quando nos sentirmos mais agitados, podemos iniciar o exercício de inspirar e expirar mais lentamente, por exemplo. Consigo trabalhar com minha respiração? Isso já é um passo bem importante! Posso mudar meus pensamentos? Que tal lembrar paisagens bonitas? Dá para relembrar cenas alegres? Ligar para alguém que seja referência para a sua segurança é possível?
Temos um exercício importante que é reconhecer os nossos sentimentos e sensações, aprofundar nosso autoconhecimento; entrar em contato com o que sinto e, a partir disso, ter mais clareza do que estou precisando, seja de cuidado, seja de serenidade, seja de esperança; buscar fortalecer nossos momentos de tranquilidade. Podemos, quem sabe, ter a esperança de que tudo isso nos leve a reflexões profundas sobre nossos próprios estilos de vida, nosso cotidiano, nossas crenças, nossas prioridades, trazendo a possibilidade de nos (re)inventarmos como habitantes do planeta Terra.
ufc{talks} – Como lidar com as crianças em situações como essa?
Kellen Ribeiro – Repito a ideia de que, com a subjetividade humana, não há “fórmula mágica”, mas temos estudos e experiências que mostram maneiras para lidar melhor com as situações. Nós trabalhamos com tanatologia, que aborda os processos emocionais e psicológicos que envolvem as reações à perda, ao luto e à morte. Muitas pessoas querem saber como abordar esses assuntos com crianças, especialmente com as crianças pequenas.
O que as pesquisas evidenciam é que, diferentemente do que a gente pensa a partir do senso comum, que a idade da criança seria um fator decisivo na comunicação de notícias difíceis, têm mais relevância a própria atitude dos pais em relação à morte, a franqueza com os filhos para tratar desse tema e o apoio recebido da família.
Nesse contexto de pandemia, em que as pessoas estão vivendo lutos, a forma como os pais ou outras pessoas de referência lidam com as questões atuais influenciará muito a vivência das crianças. E o que temos de recomendações?
Ajude as crianças a se expressarem, a trazerem à tona seus medos e ansiedades. Cada criança terá sua maneira de fazer isso. Brincadeiras, jogos e desenhos podem ajudar nessa expressão. Independentemente da forma em si, o importante é que se sintam seguras para expressar aquilo que as mobiliza no momento.
Conserve a proximidade das crianças com seus pais, familiares ou responsáveis. Já escutei situações de pais profissionais de saúde em atividade que consideraram mais seguro deixar seus filhos com parentes próximos. Para eles foi possível; os familiares estavam com essa disponibilidade e há vínculo forte com as crianças. É importante que, mesmo nesses casos, o contato com os pais seja garantido diariamente, com a forma remota mais adequada para a idade dos filhos.
Mantenha a rotina da casa, o que serve para todos. Se possível, construa novas rotinas com as crianças, com atividades lúdicas e pedagógicas. É importante envolvê-las nas atividades domésticas e incentivá-las para que continuem brincando, socializando-se com os de dentro e de fora de casa, respeitando o distanciamento social. Tenho visto, por exemplo, crianças com mais de 5 anos conversando por aplicativos de comunicação, narrando seus dias, mostrando suas brincadeiras de casa, inventando jogos e outros modos de brincar junto, mesmo em casas separadas.
Atente para o fato de que, em momentos de crise, a criança tende a buscar e solicitar mais dos pais. A sugestão é que os pais falem sobre a COVID-19 de forma honesta e apropriada à idade deles, com explicações sobre as medidas necessárias para prevenção. Temos material lúdico disponível, como músicas da turma da Mônica que abordam o comportamento adequado em tempo de pandemia do coronavírus.
Se eles tiverem preocupações, o fato de explicitá-las pode ajudar a reduzir a ansiedade. Mas vamos lembrar que é muito importante o estado dos pais ou responsáveis. Além daquilo que é dito, ficam os gestos, a expressão das emoções. A partir daí, as crianças desenvolverão seus próprios recursos para lidar com a situação, sempre com a necessidade de apoio.
Claro que isso é desafiador para os pais, que estão com muitas outras preocupações. Mais uma vez, a gente não precisa se cobrar tanto nesta hora. Não precisa ser a “supermãe” ou o “superpai” e fazer todo o manual de brincadeiras legais, quando a gente precisa limpar a casa, fazer a comida e, possivelmente, cuidar de alguém doente, viver nossos lutos. Muitos estão com trabalho em casa e as crianças estão recebendo atividades escolares diariamente também. Nós não estávamos preparados para a escolarização domiciliar: nem as escolas, nem as crianças, nem as famílias. E temos desafios nesse sentido também!
Ao mesmo tempo, estamos diante de uma oportunidade de aprender intensivamente a “encarar” as frustrações, aprender sobre a convivência familiar 24 horas, sobre solidariedade, sobre empatia, sobre resiliência – nossa capacidade de lidar com os problemas, com os ditos “perrengues”, e de resistir às diferentes pressões que a vida traz. Certamente, teremos efeitos dessa pandemia na nossa subjetividade e é importante que a gente pense nisso desde já, para que prevaleça o cuidado não “só” com as crianças mas com a gente mesmo e com os outros, numa perspectiva ampla.
Fonte: Coordenadoria de Comunicação Social e Marketing Institucional – e-mail: ufcinforma@ufc.br
Um novo passo para o tratamento de pacientes de COVID-19, doença causada pelo novo coronavírus, foi consolidado nesta semana com a finalização do protótipo do capacete de respiração assistida, batizado de Elmo. O modelo, em produção no Ceará, passava por ajustes finais e agora será submetido a testes de usabilidade, antes de entrar na fase de ensaio clínico.
O equipamento está sendo produzido por força-tarefa que envolve Governo do Ceará, por meio da Secretaria da Saúde, Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP/CE) e Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP), além da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI/Ceará), e ainda Universidade Federal do Ceará e Universidade de Fortaleza (UNIFOR), da Fundação Edson Queiroz.
O protótipo do Elmo foi desenvolvido no Instituto SENAI de Tecnologia em Eletrometalmecânica e testado no Laboratório do SENAI de Jacarecanga, a partir de uma ideia apresentada pelo superintendente da ESP/CE, Marcelo Alcantara. “Os princípios e requisitos terapêuticos do Elmo foram plenamente atingidos com o protótipo”, avalia Alcantara após a consolidação do modelo, que passou por ajustes simples para redução de tamanho e contenção de ruído.
Nesta etapa, o Elmo será submetido a testes finais de usabilidade em voluntários. O processo ocorrerá em curto prazo e deve ser finalizado nas próximas semanas. A avaliação a partir do manuseio pode resultar em pequenos ajustes, se reportada a necessidade por usuários em testes, mas o conceito do protótipo foi concluído. “Diferentes pessoas vão testar o Elmo para avaliar a ergonomia, mas é certo que, se utilizado hoje, o equipamento cumpriria com a finalidade de dar suporte ventilatório necessário”, destaca o engenheiro eletricista, especialista em engenharia clínica pela ESP/CE, David Guaribara.
Em seguida, o modelo cearense será avaliado pela Comissão de Ética e Pesquisa da ESP/CE para entrar em ensaio clínico, isto é, teste em pacientes com insuficiência respiratória causada pela COVID-19, no Hospital Leonardo da Vinci, requisitado pelo Governo do Ceará para dar suporte aos pacientes no Estado. A fase é necessária para iniciar a produção definitiva do capacete cearense. Paralelamente, a equipe já trabalha com o registro do Elmo na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
Para o presidente da FIEC, Ricardo Cavalcante, os resultados positivos são animadores: “Estamos confiantes de que haverá uma produção em larga escala após a finalização das avaliações de saúde do comitê de ética da ESP, para que possamos ajudar ainda mais no combate à pandemia. A inteligência e a capacidade técnica dos que fazem o SENAI e dos parceiros foram imprescindíveis na busca por esse equipamento que pode vir a salvar muitas vidas”.
O Prof. Jorge Soares, diretor de Inovação da FUNCAP, explica que foram feitos testes adicionais em dois protótipos do Elmo: um de base rígida e outro de base flexível. “Os resultados seguem animadores e, com o protótipo definido, a avaliação clínica em pacientes com insuficiência respiratória deve vir nos próximos dias. Com essa sequência e os devidos trâmites na ANVISA e no INPI [Instituto Nacional da Propriedade Industrial], ganha-se a confiança necessária para a produção em larga escala. É um orgulho para o Ceará”, avalia.
Os pesquisadores envolvidos já estavam animados com os testes iniciais realizados em 23 de abril. O Elmo prevê a utilização de um mecanismo de respiração artificial não invasivo, sem necessidade de o paciente ser entubado e com maior segurança também para os profissionais de saúde.
Para o diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Universidade de Fortaleza, da Fundação Edson Queiroz, Prof. Vasco Furtado, a união da indústria, academia e setor público do Ceará, consolidada na concepção e prototipagem do Elmo, precisa ser vista como alternativa para a resolução de muitos de nossos problemas. “Para a UNIFOR, fazer parte ativamente dessa iniciativa é importante pelos benefícios que o Elmo trará à sociedade e também porque nos fortalece enquanto instituição capaz de produzir inovação condizente sempre com a nossa máxima ‘Ensinando e aprendendo’”, destaca Vasco Furtado.
O pró-reitor-adjunto de Pesquisa e Pós-Graduação da UFC, Prof. Rodrigo Porto, também enfatiza a cooperação entre grandes atores de formação acadêmico-científica do Ceará e indústria na busca de soluções contra a pandemia. “O Elmo é um esforço muito bonito e estamos na expectativa, agora nesses momentos finais de testes, de homologação e de lançamento, para que o sistema público de saúde possa se beneficiar diretamente dele”, afirma.
Ainda segundo Porto, o capacete de respiração assistida representa um marco na pesquisa cearense e revela a importância do investimento em ciência e tecnologia. “Isso obviamente não aconteceu com essa velocidade somente por causa da pandemia, mas fundamentalmente porque esse domínio científico e tecnológico estava presente. Fica como uma lição para a sociedade brasileira de que esse investimento nunca foi em vão, pelo contrário, nos deixa preparados para reagir nas novas necessidades e demandas não só na saúde mas em todas as áreas da sociedade”, comenta.
SOBRE O ELMO – O Elmo é a promessa para desafogar as UTIs, que já estão saturadas de pacientes com COVID-19. Outra vantagem é o baixo custo, que garante facilidade de produção em larga escala. Enquanto uma máquina de ventilação mecânica custa em média R$ 70 mil, o capacete respirador sai a um custo de cerca de R$ 300,00 a unidade. O modelo segue um tipo adotado em países da Europa, como a Itália, que teve bons resultados, com redução da necessidade de aparelhos de ventilação mecânica em cerca de 60%. O equipamento pode ainda ser desinfectado e reutilizado.
O capacete é capaz de reduzir a necessidade de respiradores pulmonares artificiais. Trata-se de uma oxigenoterapia do paciente, que inala oxigênio puro e não reinala o CO2 produzido, que tampouco é expelido no ambiente, evitando a contaminação dos demais.
Confira o vídeo com o teste do protótipo do equipamento:
Fonte: Coordenadoria de Comunicação Social e Marketing Institucional da UFC – e-mail: ufcinforma@ufc.br
Pesquisa desenvolvida no Campus de Sobral da Universidade Federal do Ceará investiga uma alternativa de diagnóstico de COVID-19, a partir da análise de tomografias computadorizadas (TCs) de pulmão feitas em pacientes com suspeita da doença. Coordenado pelo Prof. Iális Cavalcante, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica e de Computação (PPGEEC) do Campus de Sobral, o estudo busca definir uma metodologia de segmentação e reconhecimento de regiões de infecção nas imagens de tomografia computadorizada.
“Buscamos uma metodologia que permita aos infectologistas e pneumologistas obter uma classificação mais precisa da doença, sem que futuramente haja necessidade direta do teste em laboratório, ou que possa ajudar na confirmação em casos de redundância dos testes utilizados. As imagens são obtidas no momento em que o paciente dá entrada no hospital e novas TCs podem ser coletadas ao longo do tratamento”, explica o Prof. Iális.
Segundo o docente, no decorrer do desenvolvimento da pesquisa científica, não será possível desconsiderar o uso dos testes de laboratório, uma vez que eles são utilizados para analisar o desempenho da metodologia a ser proposta.
DETALHAMENTO – A pesquisa é intitulada “Detecção de COVID-19 em imagens de tomografia computadorizada de pulmão através de segmentação adaptativa e aprendizado profundo”. Segundo o coordenador do estudo, entende-se por segmentação o ato de separar, em uma imagem, aquelas regiões em que se tem mais interesse, “ou seja, numa foto de um gato descendo de uma árvore, posso segmentar só a região do gato ou da árvore, de acordo com o meu objetivo. Na situação de um novo vírus, diferentes regiões do pulmão podem se tornar relevantes para a pesquisa, variando de acordo com a idade do paciente e do tempo de infecção. Então, a pesquisa precisa se adaptar a essas possibilidades de mudança das imagens analisadas”, detalha o pesquisador.
Ele explica que, no campo da aprendizagem de máquina (um dos ramos da inteligência artificial), há uma série de algoritmos que podem auxiliar na classificação adequada das imagens dos pacientes analisados, ajudando a identificar se o paciente tem a COVID-19 ou outros tipos de doença respiratória.
“Não sabemos como será o avanço da pandemia e especialistas em epidemiologia informam que muitos tratamentos devem surgir até se encontrar uma vacina. Por isso, mais propostas de diagnóstico surgirão para aprimorar esses tratamentos emergentes”, pontua o Prof. Iális.
A pesquisa está em fase inicial. Nessa etapa, a equipe está fazendo o levantamento de imagens de tomografias disponíveis em bases públicas do Brasil e do exterior, o que já configura uma contribuição positiva, uma vez que a coleta pode trazer caracterizações importantes desses dados para a comunidade científica.
A ideia do grupo é também utilizar imagens do Hospital Regional Norte, localizado em Sobral. Para isso, aguarda autorização dos comitês de ética em pesquisa da UFC e do Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar (ISGH).
Após essa etapa, serão realizados o estudo e a aplicação de técnicas de segmentação de imagens, para isolar as regiões relevantes do pulmão e identificar adequadamente os casos com COVID-19; em seguida, a implementação dos classificadores das imagens, para ajudar os especialistas na distinção mais precisa do tipo de doença respiratória que acometeu o paciente analisado.
Além do Prof. Iális, participam do estudo os docentes Carlos Alexandre Rolim Fernandes, Jarbas Joaci de Mesquita Sá Júnior e Márcio André Baima Amora, e os estudantes de graduação José Ediberto Júnior e Jadson Mororó. Estudantes de pós-graduação serão selecionados em breve para o projeto.
Fonte: Prof. Iális Cavalcante, do Curso de Engenharia da Computação e do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica e de Computação (PPGEEC) do Campus de Sobral da UFC – e-mail: ialis@sobral.ufc.br