Uma das mais modernas indústrias de cimento do Brasil já está utilizando uma solução tecnológica criada em parceria com a Universidade Federal do Ceará para melhorar o gerenciamento de suas atividades. Professores e estudantes do Campus de Russas trabalharam em conjunto com funcionários da Cimento Apodi por um ano e apresentaram nesta terça-feira (24) o resultado da cooperação: a Plataforma de Gerenciamento Autônomo de Moinhos Verticais de Cimento, que está sendo aplicada na planta da Apodi, no Pecém.
A plataforma consiste em um software de inteligência artificial que monitora todo o processo da etapa da moeção de cimento, realizada por um equipamento de aproximadamente seis metros de altura capaz de produzir, a depender do tipo, de 70 a 92 toneladas de cimento por hora. Esse gerenciamento automatizado confere ao processo benefícios como economia de água, de energia, maior produtividade e mais estabilidade nos processos.
“Essa parceria é importante não apenas para a Cimento Apodi e para a Universidade Federal do Ceará, mas é importante para toda a sociedade cearense. Há décadas tem se falado sobre o desvirtuamento entre a iniciativa privada e a Universidade. E o que nós estamos fazendo aqui é quebrar esse paradigma”, declarou Adauto Farias, presidente da Apodi, na cerimônia de lançamento da plataforma, realizada na fábrica do Pecém. Natural de Russas, ele afirmou estar “vibrando com essa parceria”.
Na ocasião, o Prof. Rodrigo Porto, coordenador de Inovação Tecnológica da Coordenadoria de Inovação Tecnológica da UFC, vincuIada à Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação, parabenizou a equipe em nome da UFC. “Estamos extremamente satisfeitos com tudo o que vimos aqui, com a qualidade do que foi desenvolvido por esse grupo de estudantes e professores do Campus de Russas. Isso mostra a grande competência instalada na Universidade”, congratulou.
O projeto foi desenvolvido pelos estudantes Rafael Costa, Hismael Costa e Cintia Lima, do Curso de Engenharia de Software; Hévilla Sousa e Rilmar Farias, do Curso de Engenharia de Produção; e Alex Frederico, do Curso de Ciências da Computação, sob coordenação dos professores Dmontier Aragão, do Curso de Engenharia de Produção, e Alexandre Arruda, do Curso de Ciências da Computação.
“O foco era resolver um problema e ao mesmo tempo formar mão de obra e injetar recursos no nosso campus”, explica Aragão. Segundo ele, apesar da orientação e supervisão dos professores, “os estudantes foram extremamente protagonistas no processo”. Para que desenvolvessem o trabalho, a Apodi doou para o campus equipamentos relacionados ao projeto, além de custear viagens e todo o equipamento necessário para a produção.
Alex Frederico, recém-formado no Curso de Engenharia da Computação, é um exemplo da mão de obra que o projeto buscava formar. Após concluir a graduação, por obter êxito no estágio na Apodi, foi contratado como funcionário efetivo da empresa. “Quando você está na faculdade espera participar de coisas grandes e do que você gosta, e o projeto me proporcionou isso”, comemorou o engenheiro. “É muito bom ver uma coisa que você fez sendo colocada em prática e outras pessoas utilizando. É realizador”.
“Estou seguro que o resultado foi maior do que uma melhor eficiência, uma redução de temperatura. O mais importante disso é o que criamos. Intercambiamos muito conhecimento”, afirmou Emmanuel Mitsou, diretor-superintendente da indústria de cimentos.
De acordo com o Prof. Dmontier Aragão, com a finalização do software, as duas parceiras já estudam a ampliação da colaboração para que os estudos desenvolvidos pela UFC possam ser levados à fábrica da Apodi em Quixeré.
SUSTENTABILIDADE – “Essa também é uma iniciativa sustentável, pois há um uso considerável de água na produção no cimento, e o monitoramento reduz esse consumo de água e também o de energia. Neste equipamento, é utilizado o coque de petróleo [combustível sólido derivado do petróleo] e, ao reduzir esse consumo, além de diminuir custos, diminui o consumo de um combustível não renovável”, explica o Prof. Dmontier Aragão. Outro fator positivo para o meio ambiente é a redução da emissão de poluentes.
INTERIORIZAÇÃO – “O que a gente quer ressaltar é o poder que um campus do Interior tem de transformar não só a realidade das pessoas que estão no campus, mas da indústria, e fomentar o desenvolvimento econômico da região”, destacou o Prof. Dmontier Aragão. O Prof. Lindberg Gonçalves, diretor do Campus de Russas, declarou-se um grande defensor do desenvolvimento do Interior e disse que a entrega do projeto é uma resposta à sociedade, que é quem financia a Universidade. “Inovação gera mais empregos, gera mais competitividade, gera tudo de bom que se possa imaginar. Então temos que trabalhar nessa direção. Esse é um pontapé para o que vem por aí”, prospectou.